Câncer de Próstata: Prostatectomia Robótica deve ser Coberta pelo Plano de Saúde

Prostatectomia Robótica: O Fim da Espera? Entenda por que Planos de Saúde e SUS Devem Cobrir a Cirurgia Inovadora

A saúde avança a passos largos, e a tecnologia robótica tem redefinido o tratamento de diversas doenças, especialmente o câncer. No combate ao câncer de próstata, a prostatectomia robótica se estabeleceu como um divisor de águas, oferecendo resultados superiores em termos de recuperação, controle oncológico e, crucialmente, preservação da qualidade de vida pós-cirurgia.

No entanto, por muito tempo, o acesso a essa tecnologia inovadora permaneceu restrito, criando uma barreira entre quem pode pagar e quem precisa de uma intervenção minimamente invasiva e altamente eficaz.

O Que é a Prostatectomia Robótica e Por Que Ela é Superior?

A prostatectomia radical é o procedimento cirúrgico padrão para a remoção da próstata em casos de câncer localizado. Tradicionalmente, era realizada por cirurgia aberta (com incisão abdominal). A evolução trouxe a laparoscopia, e, mais recentemente, a prostatectomia robótica – a forma mais avançada.

Neste procedimento, o cirurgião não opera diretamente o paciente. Em vez disso, ele controla instrumentos cirúrgicos minúsculos e de alta precisão a partir de um console, utilizando um sistema robótico (como o Da Vinci, o mais conhecido).

Principais Vantagens da Cirurgia Robótica:

VantagemImpacto no Paciente
Maior PrecisãoVisão tridimensional ampliada em até 10x e instrumentos com 7 graus de liberdade de movimento (simulando a mão humana, mas com mais estabilidade e menos tremor).
Menor InvasividadeApenas pequenos furos (portais) em vez de grandes incisões.
Recuperação Mais RápidaMenos dor, menor perda de sangue, tempo de internação reduzido (em geral, de 24 a 48 horas).
Melhores Resultados FuncionaisTaxas significativamente melhores de preservação da função sexual (potência) e controle urinário (continência), as duas maiores preocupações pós-cirurgia.
Controle OncológicoMargeamento cirúrgico mais preciso, minimizando a chance de deixar células cancerígenas.

A superioridade da prostatectomia robótica não é apenas uma questão de conforto, mas de saúde e qualidade de vida pós-tratamento. Por essa razão, sua incorporação é um imperativo ético e técnico.

O Contexto Legal: A Lei 14.307/22 e a Obrigação dos Planos de Saúde 

A batalha pela cobertura da prostatectomia robótica pelos Planos de Saúde encontrou um ponto de virada com a sanção da Lei nº 14.307, de 3 de março de 2022. Essa lei alterou a forma como o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) é atualizado, estabelecendo um mecanismo de inclusão muito mais dinâmico e favorável ao paciente.

A Inovação da Lei 14.307/22

Antes da Lei 14.307/22, a inclusão de novas tecnologias no Rol da ANS era um processo lento e discricionário. O grande avanço dessa legislação está no estabelecimento de um prazo máximo de 180 dias para que a ANS decida sobre a incorporação de qualquer tecnologia nova. Mais crucialmente, o Art. 10, § 7º da Lei determina que:

“Ocorrendo a decisão de incorporação, a operadora de planos de assistência à saúde deverá oferecer o procedimento, o exame ou o tratamento de saúde em, no máximo, 60 (sessenta) dias, contados da data da publicação da decisão de incorporação, ou do registro da nova tecnologia no órgão competente, o que for mais recente.”

O Ponto Central: A lei torna a inclusão quase automática após a decisão favorável de incorporação por órgãos técnicos, como a Conitec no SUS, ou a própria ANS.

A Obrigatoriedade de Cobertura e o Nascimento da Ação Judicial (AGI)

Com a decisão favorável de incorporação da prostatectomia robótica pela ANS ou com a sua inclusão no SUS (baseada em pareceres técnicos), nasce a Obrigação dos Planos de Saúde de custear o procedimento.

  1. Publicação da Decisão/Portaria: Uma vez que a decisão de incorporação (seja no Rol da ANS ou a portaria de incorporação no SUS, baseada em parecer da Conitec) é publicada no Diário Oficial, o relógio começa a correr.

  2. Prazo de 60 Dias: Após 60 dias da publicação, a cirurgia entra automaticamente no rol obrigatório de cobertura.

  3. A Recusa Ilegal: Caso o plano de saúde se recuse a cobrir a prostatectomia robótica após o prazo, a recusa passa a ser ilegal.

Neste cenário, a chamada Ação Judicial para Garantir a Incorporação (AGI) se torna o caminho legal para o paciente exigir o cumprimento imediato do contrato e da lei, garantindo o direito à cirurgia robótica. A base legal é sólida: uma tecnologia com eficácia e superioridade comprovadas e um trâmite regulatório que a torna obrigatória após um prazo claro.

A Tese da Obrigação do SUS: O Parecer da Conitec e o Impacto Social 

Se para os planos de saúde a obrigação advém da Lei 14.307/22, para o SUS, a inclusão da prostatectomia robótica está intrinsecamente ligada à avaliação técnica da Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). A Conitec é o órgão responsável por assessorar o Ministério da Saúde sobre a incorporação, exclusão ou alteração de novas tecnologias.

O Fato Mais Recente: Parecer Favorável da Conitec (08/08/2025)

A notícia mais importante para a saúde pública é o registro de deliberação que estabelece a Obrigação de custeio pelo SUS:

Em 08/08/2025, a Conitec deu parecer favorável à incorporação da técnica cirúrgica de prostatectomia robótica.

Registro de Deliberação nº 1030/2025.

Este parecer técnico representa o reconhecimento oficial, por parte do sistema público de saúde, de que a prostatectomia robótica é uma tecnologia superior, custo-efetiva e de grande valor para os pacientes. O parecer favorável é o último passo técnico antes da oficialização.

O Próximo Passo: A Publicação da Portaria

Com o parecer favorável em mãos, o Ministério da Saúde deve publicar uma Portaria de Incorporação no Diário Oficial da União. A partir dessa publicação:

  • A técnica cirúrgica passa a ser oficialmente incorporada ao SUS.

  • Nasce a Obrigação de custeio pelo SUS.

  • O sistema de saúde pública deve se preparar para oferecer a prostatectomia robótica em hospitais de alta complexidade.

O Impacto Social: A incorporação no SUS tem um impacto gigantesco, pois democratiza o acesso a um tratamento de ponta para a maioria da população brasileira que não possui plano de saúde. Ao oferecer a cirurgia robótica, o SUS não apenas trata o câncer, mas também reduz drasticamente as sequelas de incontinência e impotência, economizando recursos públicos a longo prazo com o tratamento dessas complicações.

A Análise Custo-Benefício: Por Que a Robótica é Custo-Efetiva? 

Um dos argumentos frequentemente utilizados contra a incorporação de novas tecnologias é o custo inicial elevado. É inegável que o equipamento robótico e o treinamento da equipe representam um investimento substancial. No entanto, em uma análise de longo prazo, a prostatectomia robótica se mostra surpreendentemente custo-efetiva.

Economia no Pós-Operatório e Qualidade de Vida

 

Fator de Custo-EfetividadeCenário RobóticaCenário Cirurgia Aberta/Laparoscopia
Tempo de InternaçãoRedução significativa (1-2 dias).Geralmente maior (3-5 dias).
ComplicaçõesMenor incidência de transfusões e infecções.Maior chance de intercorrências.
Tratamento de Sequela (Incontinência/Impotência)Taxas de continência e potência sexual significativamente melhores.Taxas de sequelas mais altas, exigindo tratamentos caros e demorados (fisioterapia, medicamentos, implantes).

Um estudo recente (cujos dados de 2024/2025 reforçam a tese) demonstra que, embora o custo do procedimento em si seja maior, a economia gerada pela redução da necessidade de reoperações e, principalmente, pela menor incidência de sequelas (que exigem tratamento contínuo), equilibra a balança.

Exemplo Prático (Hipótese Baseada em Dados): O tratamento de incontinência urinária grave pode custar ao sistema de saúde (público ou privado) milhares de reais por ano, incluindo fraldas geriátricas, medicamentos e, em casos extremos, cirurgias de sling ou implante de esfíncter artificial. Ao prevenir essa complicação com a prostatectomia robótica, há uma economia de recursos no médio e longo prazo, justificando a incorporação da tecnologia.

Conclusão: O Imperativo da Incorporação da Prostatectomia Robótica 

A tese de que a prostatectomia robótica deve ser autorizada e custeada pelo SUS e pelos Planos de Saúde é inquestionável, apoiada por evidências técnicas, custo-efetividade e um forte respaldo legal.

  • Para os Planos de Saúde, a Lei 14.307/22 estabelece um mecanismo claro de incorporação automática após decisões favoráveis, fazendo com que a recusa da cobertura seja, após o prazo de 60 dias da publicação da portaria, passível de ação judicial (AGI).

  • Para o SUS, o Registro de Deliberação nº 1030/2025 da Conitec representa o selo de aprovação técnica. A publicação da portaria de incorporação, que é o passo seguinte, tornará o custeio obrigatório.

O futuro do tratamento do câncer de próstata é minimamente invasivo e robótico. A incorporação da prostatectomia robótica não é um luxo, mas sim a concretização de um direito à saúde que oferece as melhores chances de cura com a menor incidência de sequelas. É hora de o sistema de saúde brasileiro, em todas as suas esferas, abraçar essa inovação e garantir que a tecnologia de ponta esteja acessível a todos que dela necessitam.

Liminar para Imunoterapia pelo Plano de Saúde

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Advocacia Especialista em

Adriana Tavares Gonçalves Freitas

Adriana Tavares Gonçalves de Freitas é Advogada Especialista em Direito da Saúde, com mais de 20 anos de experiência. Membro da Comissão de Direito Médico da Associação Brasileira dos Advogados (ABA), é coautora do livro “Direito à Saúde em Evidência” (Editora Degustar, 2023). Atua em questões relacionadas ao direito à saúde, especialmente em contratos com planos de saúde.

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