Desapropriação no bairro da Liberdade, em São Paulo, para a implantação da Linha 6 – Laranja do Metrô

A construção da Linha 6–Laranja do Metrô é uma das maiores obras de mobilidade urbana em andamento na cidade de São Paulo. Ligando a Zona Norte ao centro, o projeto promete desafogar o trânsito e oferecer um transporte rápido e eficiente para milhares de paulistanos. No entanto, a grandiosidade dessa obra vem acompanhada de impactos importantes — entre eles, as desapropriações no bairro da Liberdade, em São Paulo, para a implantação da Linha 6–Laranja do Metrô.

Neste artigo, explicamos em detalhes como essas desapropriações têm ocorrido, quais são os impactos para a comunidade local, os direitos dos proprietários e a atuação estratégica de um advogado especializado. Continue lendo e entenda tudo sobre esse processo.

A Resolução SPI nº 010/2025 e os imóveis atingidos

Em 20 de fevereiro de 2025, o Governo do Estado de São Paulo publicou no Diário Oficial a Resolução SPI nº 010/2025, declarando de utilidade pública diversos imóveis localizados nas ruas Tamandaré e Doutor Siqueira Campos, no bairro da Liberdade. 

A medida atinge especialmente os imóveis situados nos seguintes endereços:

  • Rua Tamandaré, nº 570, 596 e 598
  • Terrenos com fundos voltados à Rua Doutor Siqueira Campos

O total de área desapropriada ultrapassa os 4.589 m², somando-se aos mais de 7.300 m² já expropriados anteriormente.

Critérios de Avaliação e Indenizações

A Constituição Federal assegura o direito à justa e prévia indenização em dinheiro aos proprietários de imóveis desapropriados. O valor é determinado com base no mercado imobiliário à época da avaliação, considerando fatores como localização, metragem, uso e estado de conservação do imóvel. O processo pode ocorrer de forma amigável ou, na ausência de acordo, ser judicializado, com a realização de perícia para definição do valor indenizatório. Durante o processo judicial, é possível a imissão provisória na posse mediante depósito prévio do valor ofertado.

Por que a localização do VSE foi alterada?

Inicialmente, o VSE seria implantado na Rua Senador Felício dos Santos, nº 142. O imóvel chegou a ser desapropriado e demolido. Contudo, após o início das obras — com cerca de 19,5% de avanço — houve uma mudança técnica no projeto, que resultou na realocação do VSE para a Rua Tamandaré. Isso implicou novas desapropriações e afetou um novo conjunto de imóveis, gerando impacto duplo na região.

Aspectos Jurídicos

Além da Resolução SPI nº 010/2025, outras medidas legais embasam as desapropriações:​

  • Decretos Anteriores: O Decreto nº 68.453/2024 declarou de utilidade pública imóveis na Rua Tamandaré, complementando a resolução posterior.​
  • Ações Judiciais: Proprietários que não concordam com as indenizações propostas podem recorrer ao Judiciário, que determinará o valor com base em perícia técnica.​
  • Precedentes Legais: Decisões judiciais anteriores questionaram a responsabilidade pelos custos de desapropriação em concessões públicas, mas ajustes contratuais permitiram o prosseguimento das obras.

Impactos no bairro da Liberdade

As desapropriações no bairro da Liberdade, em São Paulo, para a implantação da Linha 6–Laranja do Metrô, não são apenas números e laudos técnicos. Elas afetam a vida real de moradores e comerciantes. Dentre os principais impactos, destacam-se:

  • Deslocamento de famílias e negócios: Imóveis foram desocupados, incluindo um cursinho tradicional, que encerrou as atividades.
  • Redução no fluxo de clientes: As obras alteraram o acesso e o visual do bairro, prejudicando o comércio.
  • Mudança na paisagem urbana: A retirada de imóveis altera a configuração de uma região com forte identidade cultural.
  • Valorização e especulação: Apesar dos transtornos, a presença do metrô tende a valorizar a área futuramente.
  • Geração de empregos: As obras movimentam a economia local, com contratação de mão de obra e compra de insumos.

Alterações no Fluxo Urbano e Comercial

Durante a execução das obras da Linha 6–Laranja, diversos trechos da Liberdade sofreram interdições viárias, mudanças no tráfego de pedestres e veículos, e instalação de canteiros de obras. Um exemplo marcante foi o bloqueio parcial da Rua Vergueiro — via de ligação fundamental com a Liberdade — por mais de 150 dias para a execução de intervenções relacionadas à linha. Com isso, comerciantes da região passaram a relatar queda de movimento, clientes enfrentando dificuldades de acesso e impacto direto nas vendas.

Além disso, tapumes, ruídos constantes, poeira e alterações no ambiente urbano criam um cenário menos atrativo ao consumidor e prejudicam o apelo turístico e cultural que o bairro tradicionalmente possui. Lojistas e restaurantes, que dependem do fluxo intenso de pessoas, relatam perdas significativas em seus faturamentos, especialmente aqueles situados nas imediações dos canteiros.

Reações da comunidade e ações mitigadoras

A comunidade tem participado ativamente. Uma audiência pública foi realizada, e há canais de comunicação permanentes com a concessionária Linha Uni. Comerciantes tentam manter os negócios abertos, enquanto entidades culturais monitoram o impacto no patrimônio do bairro.

Descobertas arqueológicas na área do antigo VSE geraram atenção e levaram a medidas de preservação, evidenciando a importância de conciliar progresso urbano com memória histórica.

Patrimônio Histórico e Achados Arqueológicos

Uma preocupação adicional surgiu com o achado de vestígios arqueológicos na área do antigo VSE, localizado na Rua Felício dos Santos. Em 2023, foram encontrados elementos do chamado “Sítio Lavapés”, com relevância para a história afro-brasileira de São Paulo. O achado chegou a suspender temporariamente parte das escavações e envolveu a atuação do IPHAN, do Ministério Público e de universidades.

Esses eventos ampliaram o interesse social e acadêmico sobre o impacto da obra na memória histórica da cidade, levando à adoção de medidas para preservação e catalogação dos artefatos. Ainda assim, a obra não foi interrompida, pois foi estabelecido um modelo de monitoramento contínuo durante as escavações.

Enquadramento Jurídico e Segurança Legal do Processo

Base Legal das Desapropriações

O processo de desapropriação segue as normas estabelecidas no Decreto-Lei nº 3.365/1941, combinado com os dispositivos constitucionais sobre a função social da propriedade e o direito à indenização justa. A Resolução SPI nº 010/2025 foi expedida com base nesses fundamentos, autorizando expressamente a imissão provisória na posse com urgência — instrumento jurídico que permite o prosseguimento da obra mesmo antes da conclusão de eventuais disputas judiciais sobre o valor da indenização.

A resolução detalha os imóveis afetados por matrícula e coordenadas, incluindo áreas principais e complementares que totalizam 4.589,86 m². Ela também se alinha ao Decreto Estadual nº 68.453/2024, criando um conjunto normativo sólido que respalda as ações administrativas e judiciais necessárias para viabilizar o projeto.

Ações Judiciais em Andamento

Como é natural em processos dessa natureza, alguns proprietários optam por contestar judicialmente o valor das indenizações. Nessas ações, o principal objeto de disputa é o valor do imóvel, sendo comum a nomeação de peritos para nova avaliação. O Judiciário, por sua vez, tem autorizado a continuidade das obras, conferindo segurança jurídica à execução do projeto. Até o momento, não há registro de decisões que impeçam as desapropriações ou atrasem significativamente as obras por questões judiciais.

Considerações finais

As desapropriações no bairro da Liberdade, em São Paulo, para a implantação da Linha 6–Laranja do Metrô são um exemplo clássico de como obras de infraestrutura, embora necessárias e benéficas no longo prazo, geram impactos profundos no tecido urbano e humano da cidade.

Proprietários devem ficar atentos aos seus direitos e buscar orientação jurídica especializada o quanto antes. O equilíbrio entre desenvolvimento e justiça social só será alcançado quando o progresso respeitar a dignidade e os direitos daqueles que constroem, há décadas, a identidade das regiões afetadas.

Sobre o autor: Otavio Andere Neto é advogado especialista em desapropriações há mais de 20 anos. Clique aqui para conhecer nosso site.

 

Otavio Andere Neto

Otavio é advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil desde 2003, com mais de 20 anos de experiência na condução de processos judiciais de alta complexidade. Ao longo de sua carreira, desenvolveu sólida expertise na elaboração de estratégias processuais inovadoras e na representação de clientes em disputas de grande envergadura perante as mais diversas instâncias do Poder Judiciário

Otavio Andere Neto

Desapropriação no bairro da Liberdade, em São Paulo, para a implantação da Linha 6 – Laranja do Metrô

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